Unifeso - Egresso de Ciências Biológicas inicia mestrado em Agricultura Orgânica, na UFRRJ

CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS




Egresso de Ciências Biológicas inicia mestrado em Agricultura Orgânica, na UFRRJ

10-09-2019

Conrado Abrantes se formou no curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso), em 2015. Recentemente, ingressou no Mestrado Profissional em Agricultura Orgânica, oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em parceria com a Embrapa Agrobiologia, e realizado na Fazendinha Agroecológica da Embrapa em Seropédica (RJ). 

O egresso deve concluir o mestrado em 2021. Em conversa com o Unifeso News, Conrado falou sobre as perspectivas para a agricultura orgânica no Brasil e comentou sobre uma questão polêmica recente: o aumento do número de agrotóxicos liberados para a produção agrícola no país.

Unifeso News: Por que você escolheu a área de agricultura orgânica para se especializar?

Conrado: Em minha graduação em Ciências Biológicas pelo Unifeso, procurei aproveitar as oportunidades de crescimento acadêmico, fui aluno PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica) no Parnaso e desenvolvi outros projetos de Iniciação Científica nos editais do PICPE (Programa de Iniciação Científica, Pesquisa e Extensão), atuando em temas relacionados à área ambiental. Infelizmente a crise econômica afetou de forma drástica este setor. Já em 2015, começaram os cortes de verbas para bolsas de programas de pós-graduação com dedicação exclusiva, o que inviabilizou meus planos de dar sequência a minha formação acadêmica na área ambiental, e este cenário me fez repensar minhas escolhas. Percebi que precisava me reposicionar no mercado de trabalho, e a agricultura orgânica foi uma opção que reunia os valores socioambientais que são fundamentais para minha realização pessoal, além de boas perspectivas de trabalho, uma vez que o setor agrícola sempre tem demanda de mão de obra especializada e a agricultura orgânica vem despontando com números expressivos de crescimento.

UN: Qual a sua expectativa com o mestrado?

C: Como estou trabalhando como Inspetor de Certificação de Orgânicos, o mestrado será fundamental para que eu possa crescer nesta atividade, além de me tornar apto a dar consultorias para produtores agrícolas ou atuar na indústria de alimentos orgânicos. 

Ter chegado a este mestrado, que é referência nacional na agricultura orgânica, é uma conquista pessoal que dedico ao curso de Ciências Biológicas do Unifeso, que sempre pôde contar com a dedicação e carinho do coordenador Carlos Alfredo e de todo um corpo docente inspirador e altamente qualificado.

UN: Em qual linha de pesquisa está trabalhando?

C: Minha linha de pesquisa é a de Tecnologia de Sementes. Ainda que, como Biólogo, eu não possa assinar responsabilidade técnica sobre produção de sementes - uma luta do Conselho Regional de Biologia de anos contra outros conselhos profissionais -, vou desenvolver um projeto de revisão bibliográfica sobre a legislação que rege a produção de sementes. O objetivo é produzir um material informativo voltado ao agricultor familiar, na busca de fomentar esta atividade como forma de alternativa de renda para produtores rurais e visando aumentar a produção e a oferta de sementes orgânicas, que é um dos principais gargalos produtivos da agricultura orgânica. 

UN: Como a Biologia contribui para a agricultura?

C: A agricultura orgânica é conhecida como "comida sem veneno". Os agrotóxicos, que são agentes químicos petroderivados, têm como objetivo realizar a fertilização do solo e combater seres vivos que se alimentam do que é cultivado. Como fazer, então, para produzir vegetais, por exemplo, sem estes agrotóxicos, uma vez que o solo se esgota com o passar do tempo de cultivo e as pragas e doenças acometem as produções agrícolas, comprometendo a atividade?

Basicamente se valendo de processos biológicos. Conceitos que são fundamentais na agricultura orgânica são tratados pelas ciências biológicas, como as relações intra e interespecíficas, em que o controle de pragas e a fertilização do solo podem ser conduzidos pela composição de arranjos biológicos. Um bom exemplo são os consórcios produtivos, quando diferentes espécies são cultivadas juntas, formando assim um conjunto em que, por exemplo, vegetais produzidos possuem propriedades que possibilitam um equilíbrio de relações, ou seja, um atrai o predador da praga do outro, ou um fixa determinado nutriente no solo que o outro aproveita. Enfim, é uma infinidade de possibilidades de estratégias, e a Biologia está envolvida em todas elas. Costumo dizer que a agricultura do futuro será feita por Biólogos!

UN: A agricultura orgânica é uma área que tem sido muito discutida e um grande filão, especialmente nos grandes centros urbanos, onde os consumidores estão mais conscientes sobre uma alimentação livre de químicos. Quais os desafios para o setor?

C: São inúmeros os desafios da agricultura orgânica. Para quem produz existe a dificuldade de acesso a insumos orgânicos aprovados, como sementes por exemplo. Faltam linhas de crédito destinadas ao setor para financiamento de atividades produtivas de orgânicos, até a isenção de impostos para os orgânicos, como já existe para a agricultura "convencional". Tudo isso dificulta a produção e encarece o produto para o consumidor.

Ainda assim, a agricultura orgânica cresce cada dia mais, sendo um dos setores com maior expansão atualmente. Ano a após ano aumenta o número de produtores certificados e, consequentemente, a área plantada. Tudo isso aponta para um cenário de oportunidades de negócios e de empregos para quem tem qualificação. 

UN: O ritmo de liberação de agrotóxicos em 2019, no Brasil, é o maior já registrado. Qual a sua opinião sobre o assunto?

C: É um assunto polêmico. Particularmente, vejo com muita preocupação. Os impactos ambientais sinérgicos que colocam toda qualidade de vida em risco, inclusive a do agricultor e do consumidor, são amplamente conhecidos, mas existe toda uma pressão econômica para que estes insumos químicos sejam utilizados. São interesses econômicos de multinacionais poderosas do setor químico intimamente ligadas ao setor petrolífero que atuam na cadeia produtiva da agricultura e que têm muita força sobre as decisões políticas. Mas o que mais me deixa apreensivo é que não percebo o mesmo empenho e celeridade na construção de políticas públicas para liberação de insumos para a agricultura orgânica. 

Contudo acho importante salientar que grandes produtores de commodities, como soja e milho, já utilizam técnicas que antes eram restritas à produção de orgânicos. Ficou comprovado que são mais eficientes, que produzem mais com menor custo. Bons exemplos são a adoção de práticas de manejo conservacionista do solo como o Plantio Direto, em que não há aragem do solo; a utilização de cobertura do solo com matéria orgânica, restos vegetais, que mantêm o solo protegido do sol, o que preserva a umidade e cria condições para manutenção da comunidade microbiológica do solo intimamente ligada a sua fertilidade e à saúde das culturas praticadas; e a utilização de insetos predadores como controladores biológicos. Tudo isso é produto de pesquisa científica e que já está reduzindo o uso de agrotóxicos, tornando a agricultura convencional mais rentável e ambientalmente menos impactante, ou seja, mais sustentável.

Tenho certeza de que no futuro toda agricultura será orgânica, como era no passado.

Por Juliana Lila

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